quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Durante as férias, estive lendo...


A Convite das Palavras - Motivações para Ler, Escrever e Criar
Jorge Miguel Marinho
Ed. Biruta

Se a literatura não revelar um mundo livre e em estado virgem de preconceitos para alguém - o que ela sempre faz porque é puríssima descoberta de um mundo que ainda não se viveu -, se a literatura não se oferecer para alguém e convidar esse alguém para viver o espaço virtual da liberdade - o que é impossível porque ela caminha no próprio território da livre expressão -, se a literatura não derramar poesia nos olhos do leitor para esse leitor ver melhor - o que nem se discute porque a literatura existe para revelar a vida com olhos de primeira vez -, se a literatura não implodir aquele moralismo malvado que tanto faz mal a todo aquele que busca se afirmar no exercício de grupo ou pessoal - o que não acontece porque a literatura busca "salvar" sem nenhum catecismo da moral e dos bons costumes - , se a literatura não for sempre uma promessa de felicidade - o que ela sempre é e será, porque, ainda que ela denuncie as mazelas mais "desumanas" da realidade, ela ao menos anuncia um mundo sempre melhor -, a literatura de fato, pela sua própria natureza utópica e entusiasmada, não tira nada de ninguém... Estes são alguns sentidos para a literatura que podem ser resumidos num sentido maior que se revela como forma de conhecimento e prazer, instrumento do saber, mas também e sobretudo reduto do imaginário que constrói um feliz casamento do sonho com o real.
(p. 13)


A capa deste livro - que achei linda - só não me surpreendeu mais do que o texto do autor Jorge Miguel Marinho, cuja leitura flui com naturalidade, sem perder o tom provocativo de suas linhas quando traz uma profunda reflexão sobre o ensino de Literatura na escola. A partir do diagnóstico do autor, o qual todos nós sabemos - "a falta de prazer nos caminhos do conhecimento" (p. 11), Jorge Miguel apresenta os três pilares a partir dos quais desenvolve sua obra: práticas de leitura, escrita e criação. Os capítulos são breves, construídos a partir de citações da obra estética do próprio Jorge e outras de escritores, plás e alertas com o leitor - momentos em que a conversa se torna mais íntima, e Jorge Miguel marca passagens do livro e elucida outras questões daquele capítulo.
A grande sacada do livro, que vai ao encontro da linguagem coloquial e da interlocução que ele estabelece com seu leitor, são as propostas de trabalho com a leitura literária em diferentes ambientes de aprendizagem, como faz nos últimos capítulos do livro, quando apresenta um módulo de oficina de criação literária no gênero poesia realizada virtualmente. Em um dos capítulos, o autor percorre o processo de criação de um de seus alunos, com suas produções e intervenções do oficineiro para a reescrita (ou não) de seus textos.
Pretendo, no próximo post, trazer as dicas que Jorge Miguel Marinho, também professor de Literatura, para "conquistar e ampliar a comunidade de leitores" (p. 49) , ações com o livro e a leitura que podem acontecer em nossos espaços de mediação. Por falar nisso, Jorge considera "um bom formador de leitores" alguém que "não impõe as palavras já formadas, porém acolhe as palavras em estado de formação e constrói a leitura coletiva" (p. 55). Não é superpoético e convidativo?